Frango pra Viagem
quinta-feira, 2 de janeiro de 2014
Señor Aurelio y Señor Paredes
Y la sin razón com razón muere
- Rodovia Transchaco, Km 682 (ou 882?)
Uma carta de amor
Déjame en paz, mi querido inglés. Déjame en paz. Hagamos en cambio otra cosa. Nos casaremos cuando estemos en el cielo, pero en esta tierra ¡no! ¿Crees que la solución es mala? En nuestro hogar celestial, nuestras vidas serán enteramente espirituales. Entonces, todo será muy inglés, porque la monotonía está reservada para tu nación (en amor claro está, porque sois muy ávidos para los negocios). Amas sin placer. Conversas sin gracia, caminas sin prisa, te sientas con cautela y no te ríes ni de tus propias bromas. Sin atributos divinos, pero yo, miserable mortal que puedo reírme de mí misma, me río de ti también, con todo esa seriedad inglesa. ¡Cómo padeceré en el cielo! Tanto como si me fuera a vivir a Inglaterra o Constantinopla. Eres más celoso que un portugués. Por eso no te quiero. ¿Tengo mal gusto?
Pero basta de bromas. En serio, sin ligereza, con toda la escrupulosidad, la verdad y la pureza de una inglesa, nunca más volveré a tu lado. Eres católico y yo atea y esto es una razón mayor y todavía más fuerte. ¿Ves con qué exactitud razono?
Manuela Saenz
quinta-feira, 21 de julho de 2011
Tiwanaco: Arqueologia do Nacionalismo Boliviano
nacionalistas?
Como de costume a História Universal reconstruiu a primavera andina a partir da Mitologia da Harmonia entre Pacha Mama e os seres humanos; o Dourado Republicanismo escreveu a história do verao colonial com letras de suor e sangue e se afirmou como estacao suprema da Liberdade. Mas, aos poucos as folhas das árvores ressequidas foram caindo, uma por uma. Muitos já podiam perceber que a violencia libertadora apenas havia despedaçado o espelho que refletia a imagem opressiva do verao colonial para impor a sua própria dominaçao. E entao chegou a Revolucao de Outono e seus profetas reerguendo ruínas com máquinas fantasmagóricas.
Tiwanaco, as Ruínas da Nacao, anunciava, com pompas e trombetas, a Nacao em Ruínas e o inverno da Humanidade. Mesmo com frio até os ossos um ainda pode se perguntar: As ruínas sao uma alegoria do passado ou do futuro? Aqueles de caráter destrutivo ao menos podem sonhar com o caminho livre que deixam as ruínas... Mas um mundo que reconstrói Ruínas nao seria o seu pesadelo?
Hoje, quem anda por La Paz, de vez em quando encontra um dos estilhaços do espelho por onde pode ver a imagem das trilogias arruinada pelo unitarismo das mercadorias. Acima da cidade, imponente com sua capa branca descansa o Monte Illimani, iluminado por uma brecha de Sol que escapou de Hanan Pacha. Dentro da cratera milhoes de tijolos se amontoam sobre cimento, em vermelho e cinza, Uku Pacha. Kai Pacha, a imagem de um mundo colorido também foi estilhaçado. As cores correram para se esconder nos lugares profundos: no brilho intenso dos dentes e olhos de um velhinho carguero arrastado por seu carrinho numa praça aos pés do Monte Llampu, dentro das rugas de uma Cholla velha que vende frutas na calçada do cemitério ou embaixo das unhas de uma mulher cansada de descamar truchas na feira de peixes da Rua Buenos Aires.
sexta-feira, 17 de junho de 2011
Potosí, Boca de Inferno.
A guia de turismo que me levou para Mina, Soledad, é neta de um mineiro; segundo ela é comum parentes de mineiros passarem a trabalhar com turismo.
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O cerro de Potosí está licenciado para uma centena de cooperativas de fachada, onde os mineiros de inscrevem para obter permissao de trabalho. A Federaçao de Cooperativas de Mineiros de Potosí (FEDECOMIN) conta com 17.840 sócios, quase 20% dos mineiros cooperativados em toda a Bolívia. Esses mineiros trabalham por conta e recebem o quanto conseguirem extrair de estaño. Como fazem seu próprio horário, a maior parte trabalha em turno de 4 ou 5 horas diárias, o suficiente para garantiar a comida e a cachaça (10US$/dia). Devem pagar um imposto de 12% sobre tudo que retiram como forma de contribuçao social (como um imposto de trabalhador liberal). Obviamente, eles nao pagam esse imposto sobre tudo que retiram e preferem gastar a aposentadoria enquanto sub-vivem.
Com esses dados e a primeira vista parece que a mineraçao boliviana está sob controle dos trabalhadores - nao há maior engano. As minas controladas por trabalhadores sao aquelas de metais menos preciosos (62% do estaño boliviano é cooperativado) e que exigem menor investimento em forças produtivas (pás, vagonetas de mais de 3 séculos e compressores de ar). Mas em geral todas as minas contam com remuneraçao baixíssima; extenuantes jornadas de trabalho em condiçoes mais que precárias e grandes índices de poluiçao ambiental, que atingem águas e ares de comunidades do entorno.
Apesar das diferenças entre as minas cooperativas e as de grande porte, o nivel de produtividade mundial, movido pelos grandes empreendimentos, determina a forma como a mineracao se dá também nas pequenas cooperativas. Afinal, o preço do Estaño nas Bolsas de Valores de Lima ou de Shangai determina automaticamente quanto um mineiro tem que se foder dentro da montanha.
A entrada da mina de Potosí, a 4.500 metros de altitude, estava coberta de sangue de Lhama, um feitiço que invoca misericórdia do Tío, o diabo da mina, sempre sedento de sangue.
Andei por umas 4 horas dentro da mina, por caminhos sempre estreitos e com barro até a canela. Próximo à entrada a temperatura é parecida com a da cidade (10 ou 15 graus), mas conforme se vai aprofundando a temperatura aumenta muito, passa dos 35 graus fácil, fácil...
A mineraçao na Bolivia passou por uma enorme crise durante a década de 1980, para se adequar as níveis de produtividade do mercado mundial. Nesse momento a atividade mineira estava quase inteira sob o controle do Estado, através da COMIBOL (Comissao Mineira de Bolivia). Com a crise, o Estado nao conseguiu segurar o emprego dos trabalhadores e diversas minas foram privatizadas, entre 1980-90, principalmente no Governo de Lozada. Somente em 1986, 23.000 mineiros foram demitidos em Potosí.
Desde entao a mineraçao foi reorganizada em toda a Bolivia: A extraçao de ouro e prata foi dividida por grandes empresas e a extraçao de minérios menos rentáveis passou ao controle das cooperativas, como no caso da exploracao de Estaño no Cerro de Potosí.
A estatal COMIBOL controla a maior empresa extratora de minérios do país, seguida por empreendimentos privados nacionais e multinacionais (como a Inty Raymi, San Cristobal, San Bartolomé, Sichi Huayra e Comsur). A maior parte dos empreendimentos de ouro, prata, cumbo e zinco está nesses seguimentos.
A exploraçao de Ouro na Bolívia está concentrada principalmente nas ladeiras orientais da Cordilheira Real e em amplas zona dos rios amazônicos. Como essa extraçao demanda o movimento de grandes quantidades de materiais em depósitos, acabam por destruir áreas agricultáveis (como aconteceu em Tipuani e nas Yungas, no departameno de La Paz) e causam o assoreamento de rios. A concentraçao do ouro nos depósitos aluviais utiliza dragas e balsas e grande quantidade de mercúrio nos ares e nas águas. As exploraçoes de ouro subterrâneas produzem menos impactos ambientais por serem de menor porte, compensados pelos altos índices de acidentes mortais.
San Cristobal
O conflito entre mineiros, estado e empresas é constante. Essa semana mais de 600 campesinos de 30 comunidades tomaram de assalto a Mina de Abaroa no departamento de Potosí. A Empresa é uma das maiores do país e é uma filial da japonesa Sumitomo. Os campesinos queimaram e destruíram parte das habitaçoes dos mineiros como forma de protesto pelo nao cumprimento de acordos sociais e ambientais por parte da San Cristobal. Entre as reinvidicaçoes estao: a instalaçao de um sistema de comunicaçao comunitário, eletrificaçao e a cobrança de um imposto sobre a água.
Trens de Estaño
A maior parte dos minérios extraídos do Cerro de Potosí é processada na cidade mesmo, em pequena e grandes oficinas. Uma vez purificado, os metais sao embarcados nos trens no baixio da cidade. A Associaçao de Moradores do bairro Estaçao está tentando se organizar para impedir o embarque dos metais alí. Depois de décadas respirando a poeira fina que levanta dos vagoes, o peito desses potosiños está petrificado. A estaçao recebe metais de diversas cidades vizinhas, como Porcos, e os trens seguem direto para portos chilenos.
Deformaçao, Doença e Morte
Em geral os maiores problemas ambientais causados pela mineraçao envolvem a cola e o polvo. Os chamados diques de colas sao reservatórios de milhoes de metros cúbicos de dejetos liquidos e barro com cianeto, arsênico, chumbo e outros metais pesados que se infiltram no solo e poluem rios e córregos. Normalmente estes diques ficam abandonados quando a exploraçao de uma mina termina. O polvo é aquele pozinho fino que fica suspenso no ar. Bom, no ar ou na água essas substâncias podem causar diversos problemas:
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Cinqüenta índios caídos por terem-se negado a servir nos túneis da mina. Não faz um ano que apareceu o primeiro veio e já se mancharam de sangue humano as ladeiras do morro. E a uma légua daqui, os penhascos da quebrada mostram manchas de um verde quase negro: sangue do Diabo. O Diabo tinha fechado a pau e pedra a quebrada que conduz a Cuzco e esmagado os espanhóis que passavam por ali. Um arcanjo arrancou o Demônio de sua cova e despedaçou-o contra as rochas. Sangue de índio, sangue de Diabo: agora, as minas de prata de Potosí têm mão-de-obra e caminho aberto. Antes da conquista, em tempos do Inca Huaina Cápac, quando o pico de pedra afundou nas veias de prata do morro, houve um espantoso estrondo que estremeceu o mundo. Então, a voz do morro disse aos índios: - Outros donos tem esta riqueza. - Eduardo Galeano.
Os indígenas passavam a semana inteira no alto das minas, só desciam aos sábados para a Emborachada de Chicha, onde eles tinham que conseguir tomar cachaça suficiente pra aguentar a próxima semana.
Pablo relativizou a idéia de que a Coroa Española se fundamentava na eliminaçao das diferenças étnico-linguísticas, era de interesse da metrópole manter a catequese em Aymara e Quéchua para tornar mais efetiva a dominaçao colonial.
Quizbert também colocou em questao a capacidade das atuais políticas indigenistas de descolonizar a vida social boliviana a partir da valorizaçao das línguas, etnias e tradiçoes culturais. Pelo jeito, boa parte das tradiçoes culturais reivindicadas pelas políticas do Estado Plurinacional da Bolivia sao produtos do processo colonial; ao mesmo tempo, segundo Quizbert, a reinvidicaçao das identidades nao consegue fazer frente a um processo de dominaçao que internalizou a dominacao colonial em todas as linguas. Uma figura chave nessa relacao é o Cacique ou Curaca, que personificava a mediaçao Coroa-Comunidade. Ao final, ele deixou uma pergunta muito boa:
Qual é a capacidade que as políticas educacionais tem para descolonizar nossa vida social através da revalorizaçao das línguas e “tradiçoes”, uma vez que todos nós estamos presos à essa relaçao, como dominadores-dominados, deuses de duas caras?
Lo cierto es que, açun en el transcurso de la 2a Guerra Mundial, abriendose paso entre las columnas de los periódicos, apretadas por las noticias del desembarco de las tropas aliadas en el Africa, la figura del potentado boliviano se multiplicó en la prensa estadunidense. Instantáneas tomadas por sorpresa lo exhibieron como a un antropoide en jaula de una columna, en pendent con mucamas, banqueros o flaer. Tambiém lo mostraran al anunciar que en sus minas de Bolivia estalló una huelga, felizmente saldada con sólo 300 obreros, hombres y mujeres, muertos con fuego de ametralladoreas.
Se ignora la impresión de magnate sobre este incidente, previsto en el funcionamento de la produción capitalista. Su digestión ha consolidado ya u estado de beatitud con el que contiúa asimilando, a distancia de 10.000 km las sustancias que los indios de sua país, ayudados por la tenica extranjera, extraen de las entrañas de una tierra desentrañada. Ha alcanzado, por su edad y su riqueza, casi la categoria de un Buda vivente, a quien ciertos sacerdotes de jaquet y pantalones a rayas alimentan con los poderes que a su alrededor atraen, mediante artes mágicas, sin que él tome otra parte activa en vivir que no sea la de lanzer un gruñido de alarma cuando uno de los de jaquet le supone en éxtasis, y, dejándose vencer por la tentación, alarga la mano hacía los manjares votivos.
Nada más, porque este rey mestizo ya no vive. Ya s imposible traerlo a su própria vida ni a la vida de su pueblo, animarlo, darle sensibilidad y humanidad. Solamente es posíble traerlo a la novela – Metal del Diablo, Augusto Cespedes.
http://www.ongamiradespierta.com.ar/tecnica.htm
http://www.ftierra.org/ft/index.php?option=com_content&view=article&id=5514:rair&catid=98:noticias&Itemid=175
quinta-feira, 16 de junho de 2011
EL Bunker de La Paz
Marcelo decidiu apostar em searas mais urbanas que o avô e passou a promover atividades culturais na cena independente de La Paz e incentivar o intercâmbio de artístas e peças de teatro entre La Paz, Cochabamba e Santa Cruz de la Sierra, os pólos culturais moderninhos da Bolívia.
"O Casarão já foi aduana ferroviária, banco e hoje abriga um centro cultural alternativo chamado El Bunker".
El Bunker - La Paz
Avenida Uruguay, 491, a poucos passos do terminal de ônibus.
http://quinbolivia.redqb.com/2011/06/temporada-de-mauser-en-el-bunker.html
quarta-feira, 8 de junho de 2011
Liberdade Americana: Farsa e contra-farsa
Símon é um jovem mestizo encantado com a ciência que Alex trouxe do velho mundo. Para Símon, Alex é quase um profeta; suas palavras lhe enfeitiçam com uma força que nunca imaginou possível caber em seu peito. Alex pega Símon pela mao e o turista prussiano se torna guia nativo: em terras livres Símon ainda nao sabe caminhar. Enquanto sobem a montanha perdem-se em seus próprios abismos. Alex recorda da insegurança com que calçava os pés no pequeno barco no porto de Marselha; o cheiro de violência no ar lhe preocupava. Símon sonha com o futuro.
- Símon, até onde vai a América?
Hasta que la pesca ballenera redondeara el Cabo de Horno no hubo comercio sino colonial. Fue el ballenero el que primeiro rompió la celosa política de la Corona Española, al tocar esas colonias; fueram essos balleneros que concluyeron la liberación del Perú, Chile e Bolivia del yugo de la vieja España. (Moby Dick, Melville)
A cidade dos 4 nomes e 4 ventos
De Norte, Sul, Leste e Oeste; Charcas, Chuquisaca, Sucre, La Plata.
Bellíssimo, aún más que ahora, era el sítio por las selvas que poblavan sus contornos cuando, en 1539, llegó allí Pedro de Anzurez a fundar la villa por órden del marqués Pizarro. Su plano está atravesado por el divortium aquarum del Alto Perú; línea admirable adondo, cuando llueve, dos gotas que veníam juntas suelan separarse, una rodando a las cabeceras del más poderoso río del continente, y otra yendo a los tributários del mayor caudal de aguas que corre el globo. Dos cerros cónicosde pórfido, a manera de esfinges, misteriosas, uno junto a otro se empinam con aspecto singular tras los arrebales del sud bases con tal exactitud, que los arroyos que bajan del uno son vertientes del Amazonas, y los que bajan de otro, cabecera del Río da Plata. Encalvada en uno de esos contrafuertes apacibles y abrigados al bajar la gran altiplanície de los Andes, como para hacer servir su plaza de natural escala de comercio, entre las altas provincias de Bolivia y las bajas de la Argentina, Chuquisaca es un punto céntrico de término entre dos grande vías fluviales; pues dista doce leguas del Pilcomayo y catorze del Río de La Plata. [...] En La Plata la pujanza dominante del elemento español, como que se diluía en la enorme deproporción del elemento indígena, presentaba del sistema espetáculos confusos, dispersos, o tan sólo las batallas de la intrepidez o de la fuerza. Dentro de estos muros la vida colonial se agitó por completo, desplegando en sus diversas esferas la intesidad más enérgica de su espírito. Aquí estaba la médula de aquella vasta y poderosa organización; este pueblo era el cerebro de la sociedad entera en las altas y bajas provincias interiores del virreinato. (Moreno, G. Ultimos dias coloniales en Alto Perú)
Hoje a plaza central de Sucre é consagrada à essa nobre atividade: A grande Casa da Liberdade onde foi proclamada a independência do Alto Perú é sediada em um edifício onde um dia foi a Grande Universidad Mayor Real y Pontificia San Francisco Xavier de Chuquisaca, fundada pela espada sagrada do Rei Felipe IIII e com a bencao do Papa Gregório XV em 1623.
Recostada na Casa da Liberdade está a Catedral Metropolitana construída em 1551 a partir de referencias estéticas barroco-renascentistas e mestizas. A Catedral abriga um conjunto de catacumbas onde descansam grandes personalidades da história esclesiástica de Charcas, inclusive o grande arcebispo responsável pela revoluçao cultural que agitou a cidade mais iluminista da República Bolivar.
Para quem nao gosta de turismo histórico-colonial há também a opcao de turismo urbano pelos bairros de Sucre. Esse percurso deve ser feito através do transporte publico coletivo composto de micro-onibus importados do diretamente do Japao para servir aos cidadaos platenses. Esses onibus, a primeira vista velhos e fumacentos, sao a última palavra em tecnologia à gasolina, prometem os secretários e o prefeito. Se isso for verdade podemos sentir a todo pulmao o verdadeiro cheiro do Toyotismo pelas enformigueiradas ruas de La Plata. Ah, a linha final do Toyotismo Boliviano acaba nas feiras de artesanato da periferia (como Tarabuco) onde se fabricam legítimas sandálias quéchuas com os restos de pneus dos toyotinhas.
Bom, os toyotinhas arrancam pelas subidas do centro histórico em direcao à Recoleta, primeiro bairro da cidade de Charcas, fundado por uma missao franciscana. Como Recoleta situa-se em um morro acima da Gran Plaza, aqui podemos disfrutar de uma vista privilegiada sobre a cidade.
Do outro lado da gran plaza fica o Castelo de La Glorietta, onde viveu o simpático casal Francisco Argandoña Revilla e Clotilde Urioste de Argandoña. Revilla foi um Senhor das Minas de Potosi, que depois de tanto acumular prata resolveu abrir um Banco só pra ele. Como o negócio deu certo, foi convidado a ser Ministro Plenipotenciário na França e na Espanha. Viajou o mundo inteiro divulgando a Cultura Boliviana nas grandes praças cosmopolitas do século XIX.
A imponente cidade de La Plata que se ergueu tragicamente pelos braços de indígenas nas minas de Oruro e Potosi (e criou as reduçoes onde os indígenas podiam "viver") dá lugar à farsa da urbanizacao crítica no século XX.
O atual desenho urbanísitico de Sucre foi colocado em prática a partir da década de 1950, quando convenientemente um terremoto assolou a cidade e abriu a oportunidade de modernizar suas ruas, praças e avenidas, e o “Comité de Reconstrucción y Auxilio” formula o primeiro “Plan Regulador” de Sucre. Outro projeto urbanístico é colocado em prática na década de 1970 para tentar integrar as periferias obreras ao centro da cidade. Com o pouco que aprendi sobre a historia da cidade e da colonizacao, tenho a impressao de que a urbanizacao de Sucre assumiu desde sempre um caráter negativo (tá bom, eu sei que isso nao é novidade...).
Modernizacao Retardatária Boliviana
A extraçao de prata colonial entra em uma crise profunda por volta de 1790 (se já nao era crítica sua produçao) com o alagamento de minas e esgotamento de minerais de prata. Essa crise da prata é enfrentada pela diversificacao dos minerais extraídos. Na mineracao Chuquisaqueña do século XIX os Senhores das Minas centram fogo na extracao do Estanho de Oruro e Huanuni. Entram em cena os Baroes do Estanho: Don Mauricio Hochschild, Don Simón Iturri Patiño e Don Carlos de Aramayo.
A preponderância de La Plata sobre o território boliviano vai se desmanchando e perdendo espaço para La Paz, entre os século XIX e XX. Após a Guerra do Chaco (Paraguay-Bolivia, 1932-35) o governo norte americano anuncia uma espécie de Plano Marshall Boliviano, chamado Plano Bohan. Este pacote contava com empréstismos financeiros e criacao de instituicoes, das quais a principal foi a Corporación Boliviana de Fomento(CBF), responsável pelas políticas de modernizacao da producao agropecuário-florestal e abertura de estradas.
Na prática o Plano Bohan criava condiçoes para substituir o Eixo mineiro Oruro - Potosi - La Plata, em decadência, por um novo Eixo Agrícola Cochabamba - Sta Cruz. A marcha do desenvolvimento Bohan se voltava para o oriente buscando um novo Sol para a poente economia boliviana.
Dizem os Bolivianos que o financiamento dessas politicas de modernizacao foi garantido por sólidas linhas de crédito nacional e internacional (leia-se capital fictício inventado pelo estado boliviano e dinheiro sobrante das crises de superproducao estadunidense).
Em 1952 ocorre uma revoluçao na Bolivia que apontaria para o centralismo de La Paz na formulaçao de políticas de modernizaçao. O direito de voto é ampliando à mulheres, analfabetos e camponeses; as minas sao nacionalizadas e 80% da grana do estanho vai para o Estado; uma reforma agrária toma lugar em 1953 e distribuí terra a camponeses; e uma reforma educativa moderniza e universaliza o ensino básico.
Em 1964 a Bolivia é tomada de assalto por um Golpe Militar que reprime movimentos obreros e dá continuidade aos massacres de mineiros que os Senhores e Baroes haviam inventado. A partir da década de 1970 a crise econômica se intensifica. Os camponeses sem auxílio técnico ou financeiro nao se adaptam aos níveis de produtividade do mercado e vao se encaixando na economia de subsistência precarizada. Ao mesmo tempo sao reforçados os movimentos de imigrantes rurais buscando oportunidades no coméricio, fábricas e refinarias das cidades.
O governo militar fecha a CBF e substitui o Plano Bohan, lançando a “Estrategia Boliviana de Desarrollo” que todavia também centrava fogo no Eixo Norte, dividindo o país em regioes (homogeneas, polarizadas, planas) para criar as Corporaciones Regionales de Desarrollo: (Carlao, Cássio e Carol, como exímios militantes da Crítica Regional, vao gostar de saber que na Bolivia também teve Re(li)giao do Planejamento).
Tais Corporacoes concediam créditos agropecuários priorizando as Regioes do eixo norte (Dpto. de Sta Cruz de La Sierra) onde hoje encontramos as atividades agrícolas mais modernas do país, principalmente com Soja. Sta Cruz também recebe seus milhares de imigrantes e a cidade cresce mais do que nunca, através dos projetos habitacionais de periferia e além.
O Colapso do Picante de Pollo
Na década de 1980 a produçao de estanho encontra uma crise profunda e o país entra em uma zona de estagflacao. (estagnacao economica + inflacao). As taxas de inflacao batem os 10% e as minas estatais sao fechadas: 23 mil mineiros sao jogados do fogo na brasa.
Ao mesmo tempo Cochabamba e La Paz e Sta Cruz se consolidam como capitais da urbanizacao critica Boliviana; o eixo Norte (agrícola) toma o lugar do decadente eixo Sul (mineiro); a mineracao é privatizada na década de 1980 e até hoje segue organizada por cooperativas privadas. (minha próxima parada é nas minas de Potosi, pra tentar sacar como está rolando a hoje).
Em Sucre surgem a Refinaria de Petróleo Carlos Montenegro e a Fabrica Nacional de Cemento (FANCESA) que tomam a preponderância das atividades econômicas na cidade. Crescem também o comércio e as atividades terciárias e extendem os bairros obreros.
A producao de cimento ocupa uma poucas atividades industriais de Sucre, com a MegaCorporacao Fancesa tomando o espaco da antiga SOBOCE (Sociedad Boliviana de Cemento). Aliás, a Fancesa prometeu uma fábrica super moderna e novinha em folha dentro do Crater de Marawa (35km de Sucre) para o próximo ano... Que bom, porque a paisagem de Marawa é selvagem e subdesenvolvida, como voces podem comprovar pela foto abaixo:
Hoje o Dpto de Sucre é responsável por menos de 5% do PIB boliviano e Sta Cruz 30%. Em 2001, Chuquisaca era a regiao mais pobre da Bolivia com quase 80% de sua populacao abaixo do nivel da pobreza, dos quais 60% se encontram em condicoes de precaridade total.
Esse cenário de decadencia geral do eixo de Sucre está na mídia a todo momento e os governos (dos departementos e de La Paz) prometem que enfrentarao a pobreza com um grande projeto de desenvolvimento e integracao possibilitado pela Carretera Bioceanica, que ligará o Dpto de Sta Cruz, Chuquisaca e La Paz, sem precisar passar por Potosi. Para chegar a Sucre desde Sta Cruz eu vim pela estrada antiga e é inacreditavel.. Ela desce o Valle Grande e sobe a Cordilheira, rodeando as serras. Tem trechos que a estrada parece uma trilha. Asfalto só a 90 km de Sucre, capital da Bolivia. Pueblitos miseráveis a beira do nada convivendo com rolos-compressores e tratores que levantam poeria para construir a Grande Carretera Bioceanica. A execucao dessa grande estrada também tem levantado o ânimo de Bolivianos e Chilenos sobre a reinvidicacao de uma faixa territorial no litoral do pacífico; ontem teve inicio uma discussao na Organizacao dos Estados Americanos (OEA) sobre o tema.
Após uma visita do ministro de defesa Iraniano à Bolivia, a ministra Boliviana de Defesa anunciou que o governo realizará o primeiro censo militar com vistas a modernizar o exército. O ministro chileno da defesa anunciou que "tiene Fuerzas Armadas prestigiadas, profesionales y preparadas, que están en condiciones de hacer respetar los tratados internacionales y de cautelar adecuadamente la soberanía y la integridad territorial de Chile”. - Sabe-se lá onde isso vai parar.
O colapso anda com agente de maos dadas pelas ruas e povoados. Dezenas de quéchuas miseráveis sentam nas calçadas de La Plata com os dentes podres e sombreiros rasgados recolhendo moedas; nos terminais urbanos todos os dias onibus e caminhoes se entopem de gente, botijoes de gás, sal, acucar e coca-colas em direcao aos bairros e pueblitos da perifeiria. Enquanto do outro lado da rua quéchuas de classe média passeiam vestidinhos com roupas urbanóides e cabelos tingidos, indo e voltando de pubs e universidades. Do lado de cá da rua turistas europeus, argentinos e brasileiros (opa) surfam com suas calças coloridas nas ondas do Socialismo do Século XXI.
Em todos os jornais saem notícias sobre a Crise Alimentar e a Inflacao de precos. Enquanto isso as ruas sao diariamente preenchidas de gente sem dinheiro em enormes filas nas calçadas de Bancos Internacionais.
O governo do Evo que até agora tinha se posicionado totalmente contra a producao de alimentos transgenicos (em 2006 ele prometeu eliminar as sementes transgenicas da Bolivia) dá um passo em direcao a liberacao da transgenia, como tentativa desesperada de garantir alimentos nos niveis de produtividade que o mercado exige. O preco do açúcar foi tabelado depois de quase duplicar (hoje está 6bs o kilo). E depois de um gazolinazo a inflaçao acumulou 4% só nos 5 primeiros meses de 2011.
Em um artigo dessa semana no Le Monde Diplomatique (Maya Mazoroco e Sergio Barrientos), intitulado ¿Quie decidiré quién come y a cuánto en Bolivia? os autores relacionam a crise alimentar desde 2008 com a crise do petróleo: La cadena alimentícia esta cada vez mais enfrascada en la dinámica de oligopólios empresariales que la ligam de modo cresciente a insumos derivados del petróleo a nivel global y tambiém a insumos derivados de la mineria. A esto se suma la especializacion productiva de los países en vías de desarollo impuesta durante la última década y la descampesinacion como fenômeno global. Ambos fenômenos tienden a convertir a muchos países que cuentam com sistemas de abastecimiento relevantes, en importadores de alimentos básicos que son cada vez más inaccesibles para las poblaciones de menor potencial económico.
Enquanto isso a produçao de Coca segue a todo vapor como uma das atividades mais rentáveis do país (além do gás e minerios) : mao-de-obra super explorada, baixos índices de investimento. A produçao se concentra na Regiao de Chapare, principalmente na Federacao del Tropico, onde o governo abranda a fiscalizacao e incentiva sonegacao de impostos. Os produtores das outras 5 Federacoes da Regiao de Chapare acusam o governo de privilegiar esta zona, enquanto impoem a política "Coca-Zero" (outra, nao aquela pra emagrecer) às outras 5 federacoes.
Do outro lado da montanha a crise do Dólar fez subir o preco do Ouro no mercado internacional. Em resposta o governo promete re-nacionalizar a mineracao que trará rios de ouro para a populacao que mais merece.
Pelo jeito é assim que se faz de dinheiro mais de dinheiro em tempos de colapso na Bolivia.
E como se nao bastasse, depois das 7 da noite, demônios e diabinhas saem pulando pelas ruas ao som de bumbos, caixas, trompetes e trombones. Esse mundo está do jeito que o Lefebvre gosta!