segunda-feira, 30 de maio de 2011

Uma entrada Real

Samaipata, 30 de maio de 2011.
Sta Cruz



O dia da entrada solene do Governador amanheceu com os balcoes e sacadas da cidade entrincheirados de gente. Das janelas, pilares e cabos de eletricidade pendiam flores e bandeiras da província Autonoma Cruceña. Posters da festa disputavam espaco com quadros de Bolivar para anunciar La Gran Serenata de Samaipata, rinconzito del cielo, capital arqueológica do oriente boliviano, capital do mundo!

A rua Irala havia sido pintada com faixas brancas de leste a oeste de forma a organizar a grande marcha municipal, praticada com afinco e orgulho nas últimas semanas.

Ao longo das ruas laterais chollas erguiam barracas de flores, mel e própolis, um homem de bigodes terminava de distribuir coletes vermelhos para os voluntários da Cruz Roja Española e um senhorzinho enrugado terminava de montar sua roleta da sorte enquanto bebia um copo de Sucumbé, leche con trago. Todos ansiosos para a passeata.

Os homens importantes da cidade haviam arrancado elegantes ternos azuis e negros do fundo de seus armários para sentaram enfileirados no alto da praca, em um balcaozinho de cimento forrado com tecidos artesanais coloridos. Cada um portava uma faixa oficial com as cores da Pátria Boliviana e uma inscricao que anunciava seu cargo, para que nao houvesse mal entendidos.

O animador de platéias liga o microfone com um Buenos Diiaaaaaaaaas Samaipataaaa!!!
e ressalta a importancia do histórico discurso porvenir em homenagem ao aniversário de 393 anos de Samaipata, sucursal do paraiso terrestre. Enquanto isso señoritas de casacos negros orientam filas e mais filas de criancas alinhadas em frente ao improvisado púlpito oficial.



O Governador fala sem cansar da vocacao para o progresso e o desenvolvimento que portam as cidades do vale cruceño; progresso irrompido com a declaracao da autonomia departamental: ¨Estamos provando que autonomia nao é um politica oligárquica, a Autonomia representa uma doutrina social de desenvolvimento, iniciada há 2 mil anos, por aquele verdadeiro revolucionário. Esperamos que um dia a Bolivia inteira possa alcancar o desenvolvimento que estamos promovendo aqui em Santa Cruz de La Sierra... Retomando a parábola de Jesus sobre o Talento, há que se garantir a possibilidade de desenvolvimento das capacidades do nosso povo talentoso¨


Entao o tocador de caixa faz balancar suas baquetas, a banda municipal se poe a tocar e os desfiles tomam princípio. Cada escola, organizacao e comunidade quer se ver representada em marcha. Chiquititos de 4 anos de idade andam com passos e bracos firmes como soldaditos; chollas em cor de rosa levantam a bandeira da associacao comercial; professores puxam filas interminaveis de jovens estudantes revezados por 6 bandas oficiais da cidade; e até os apicultores hippies-holandeses e o velho de bigodes da Cruz Vermelha querem ter o seu momento em frente a Santissima Trindade: Cônego, Alcade e Governador. Era tanta gente que no meio da confusao um grupo de alunos entra de novo na fila para reapresentar suas gravatas roxas e seus terninhos bem frisados.

Os homens importantes de terno comecavam a dar sinais de cansaco, e alguns conseguem escapar até a barraca de pipocas mais próxima. Mas, a passos largos desde o final da rua, surge um batalhao inteeeeeiro de soldados em uniformes e boinas verde musgo. Era o Gran Finale. Nenhuma marchinha anterior se equiparava a disciplina, o rigor e o adestramento deste batalhao que fechava com chave de ouro o maior evento cívico que Samaipata já havia presenciado.



Saindo de lá o Governador foi tomar um banho de imersao em essencia pura e destilada de rosas e jazmín, capaz de refrescar e restaurar seus fatigados membros. E os Samaipateños voltaram às suas casas regozijados e prontos para comer o melhor frango com batatas do ano.

Parabéns Samaipata. Há 393 anos preservando a Heranca Colonial!


Bibliografia

Una entrada arzobispal, 1807 in Ultimos dias coloniales en el alto Peru, Gabriel Rene Moreno, 1896 (2010), La Paz.

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