domingo, 22 de maio de 2011

El Reino de las Carnes del Fabuloso Rey Blanco

1545
Domingos Irala reúne seus homens em frente ao Forte de Nuestra Señora Santa María de la Asunción e anuncia uma nova expedição. Enfeitiçado pelas historias de riquezas del Fabuloso Rey Blanco, senhor das pratas, terras e montanhas, Irala agrupa dezenas de europeus recém chegados da costa americana e centenas de indígenas Carios, do povo Guarani, então submetidos pelos espanhóis ao Governador Pedro de Mendonza, avançado conquistador da Cueca del Plata. Mendonza é responsável pela formacao das fronteiras e territórios espanhóis as margens do Rio Paraguay-Paraná, de onde chegam mais e mais portugueses.


Madrugada em Madri. Do alto de uma torre o Rei Carlos tenta se recuperar de um sonho que lhe atormenta todas as noites a meses. Empunha o cetro real sobre o Cerro Potosí; de seus pés saem rios de prata, ouro e mel e no baixio das terras há todos os tipos de animais e plantas.

Irala se lança sobre a planície do Chaco, escavada pelos Deuses da Chuva e do Vento, pisoteada por homens e árvores gigantes e lavada pelas lágrimas da Terra, os Rios Paraguay ao norte e Pilcomayo a oeste. Para os Guaranis Chacu é a Terra da Caça desde os tempos do Inca. O Imperador dividia as planícies em regioes que a cada ano se revezavam para receber uma grande comitiva de caça. Todos que fossem capazes eram obrigados a atravessar a planície em busca de todo animal que encontrassem. Ao final a carne era distribuída. Pumas e salamandras era sacrificadas e distribuídas a gente comum. As melhores caças de veados, corças, gamos, guanacos, vicunhas eram liberadas para que continuassem a se reproduzir, os outros distribuídos entre a gente comum que compunha a expedição. Era o festival da carne.

Essas expedicoes garantiam carne abundante para o Imperador e os nobres mas a gente comum tinha que salgar o pouco que recebia, dando origem ao Charqui. A lã também era distribuida entre a gente comum, mas a de Vicunha era reservada para os de sangue real. Quem ousasse verstir-se de vicunha entre os comuns podia ser morto.

Diversos eram os povos que viviam nas bordas do Chaco. Irala se deparou com os Guaicurus, guerreiros que utilizavam cavalos para os ataques e herdeiros dos caçadores submetidos pelo Inca. Irala foi a última empresa enfeitiçada pelo tesouro do fabuloso Rey Blanco e suas riquezas (ao mesmo tempo em que o feitiço das mercadorias se espalhou). A expedição não avançou além dos afluentes do Pilcomayo e do Paraguay e a lenda virou pó, junto com boa parte da cultura e do povo Guaicuru. Os poucos que sobraram fugiram para o outra margem do Rio Paraguay, no lado da Coroa Portuguesa.

A diretriz do governo de Asuncion a partir do final do século XVI se transforma. Agora se prioriza o controle sobre a navegação dos rios Paraguay e Pilcomayo, centrais para a territorialização da pecuária e a mobilização do trabalho de 100 mil indígenas Carios.

O Chaco, terra da caça do Reino Inca é submetido a novos e modernos conquistadores que constroem fortes militares ao longo dos rios e riscam o chão em linhas retas para criar bois e vacas. A antiga produção de carne pela caça organizada a partir do Império Inca é substituída por um regime racional e produtivo e as pessoas são submetidas a uma nova relação com a produção material da vida através da propriedade privada e da produção de mercadorias.


Agora com o mapa do Chaco em quadrados e produzindo em escala, o Rey Blanco pode se fartar o ano inteiro. A Rodovia Transchaco facilita a vida dos Iralas contemporâneos que levantam poeira e formam até redemoinhos quando cortam a terra seca em Ganaderos à Diesel, com dezenas de saudáveis passageiros bovinos a bordo. O resto de Guaranis que perambula pelas estradas fica só com a terra nos dentes e olhos. Alguns trabalham em fazendas nos departamentos de Boquerón e Alto Paraguay, mas com a mecanização há cada vez menos trabalho. Suas carnes, entretanto, ainda sao sacrificadas ao Fabuloso Rey Blanco, com medo da Ira dos novos conquistadores.

As colônias de Menonitas Alemãs sao responsáveis pela importação e produção de máquinas e equipamentos agro-pecuários de alta produtividade. A vinda dos menonitas para o Paraguay foi resultado de uma política de imigração das décadas de 1920 e 1930 que desconsiderava a incorporação da mão de obra indígena na modernização da agricultura paraguaya.

A propriedade das terras, já expropriada das populacoes tradicionais no final do século XIX e internacionalizada no mercado, hoje é concentrada pelos famosos fazendeiros brasiguaios. Uma das grandes regiões pecuárias em Alto Paraguay se esconde atrás de uma reserva natural chamada Defensores del Chaco: na prática, o ambientalismo e a consolidação do Parque Nacional não defendem a Biosfera ou o Chaco, mas criam uma barreira verde para defender o latifúndio pecuarista brasiguayo. Se o Chaco é hoje o latifúndio do boi, ironicamente, é isso que o ambientalismo acabou por defender.

Já os Guaranis, se amontoam nas cidades, arrastados por mercadorias da China que carregam nas costas como tesouros do Fabuloso Rey Blanco.

Bibliografia:
GALEANO, Eduardo. Las Caras y Las Mascaras, Montevideo, 2005.
PÄSTORE, Carlos. El Gran Chaco en la formacion territorial del Paraguay, Asuncion, 1988.

Nenhum comentário:

Postar um comentário